«A forma inteligente de manter as pessoas passivas e obedientes é limitar estritamente o espectro da opinião aceitável, estimulando concomitante e muito intensamente o debate dentro daquele espectro... Isto dá às pessoas a sensação de que o livre pensamento está pujante, e ao mesmo tempo os pressupostos do sistema são reforçados através desses limites impostos à amplitude do debate».Noam Chomsky

"The smart way to keep people passive and obedient is to strictly limit the spectrum of acceptable opinion, but allow very lively debate within that spectrum - even encourage the more critical and dissident views. That gives people the sense that there's free thinking going on, while all the time the presuppositions of the system are being reinforced by the limits put on the range of the debate." – Noam Chomsky

It will reopen now and then.



27 de novembro de 2006

o combo-hito

(continuação, inesperada)

Ao ler o meu arremedo de conto, que tive o cuidado de lhe enviar, via postal, escreve-me assim um amigo, procurando disfarsar crítica negativa, em homenagem à velha amizade que nos une.

"gil:
Em anexo junto o jornal de hoje onde aparece a crítica que me pediste, referente ao teu último conto.
Este também não foi publicado, mas agradeço-te por mo teres enviado numa altura em que me faltavam ideias para a coluna que a redacção me destinou.
Um abraço. Esteves."

Desdobrei o Jornal e li, surpreendido:

"(...) Juntamente com a carta vinha um conto e um pedido de crítica.
Era um conto infantil, que a saudade dos filhos lhe ditara.
Lindo, nobre e vibrante, fora por certo inspirado pela "tragédia" do esmagamento da sua individualidade na solidão oprimida de alguma viagem no "minhocas" superlotado.
Contava a história de um mundo subterrâneo onde um jovem combo-hito (lembro-me de que ele metia um agá no meio disto!) lutava contra a opressão de um rei comboio todo poderoso.
A luta era árdua.
O Combo-Hito queria estudar e não podia.
O rei não deixava; não havia escola; todos tinham de trabalhar duramente de manhã à noite.
Ele via o pai, um velho e cansado comboio de mercadorias, esmagado por serviços violentos durante horas a fio.
O pai e os outros.
A escola era luxo proibido, a vida dura, a ignorância profunda, levando ao fatalismo, à aceitação.
Combo-Hito luta, fala, discute, faz pensar, mobiliza.
Ao princípio os comboios assustam-se, têm medo, mas acabam por se decidir e vão para a luta.
Reunem-se e reclamam; são reprimidos e fazem greve; são pressionados mas persistem e, finalmente, o rei cede.
Vai haver serviço menos duro, melhores condições de vida para todos e, finalmente, livros e escolas para todos os combohitos.
Era de facto uma bela história, simples, muito bem contada, emotiva e directa.
Lá estava toda a beleza de uma juventude que rompe as cadeias do obscurantismo, quebra as grilhetas do medo e se ergue, activa e inteligente, a despertar os outros, a fazer-lhes sentir necessidades ignoradas e possibilidades desejáveis e a mobilizá-los depois para a luta até à vitória final.
Uma bela história sem dúvida só que tinha um erro:"
(continua)

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