A FIGUEIRA (NA FOZ) - UMA LENDA
ERA UMA VEZ uma princesinha, chamada Nahida, que vivia num bonito castelo no sopé de uma pequena serra.
Do castelo via-se o mar e a serra e, a sul e nascente, sabia-se de um rio e uma larga planície verdejante.
Era o castelo onde, para além do rei, pai de Nahida, vivia também toda a corte e algum povo.
A rainha, a quem o rei amara perdidamente, morrera durante o parto de sua única filha.
Conta-se que depois desse triste evento o monarca ensandecera, tendo imposto uma lei para que fossem expulsas do castelo todas as famílias que tivessem filhos barões com menos de 20 anos; o mesmo sucedendo a quem os viesse a ter, até vinte anos depois do nascimento de Nahida.
Com esta medida o rei pretendia evitar que a sua filha morresse de parto como morreu a mãe, sua idolatrada esposa.
Queria por isso que sua filha, para quem transferiu todos os seus afectos, vivesse muitos anos e morresse casta.
A princesinha não poderia, pois, conhecer nem brincar com outra criança do sexo oposto.
A sua melhor companheira, da mesma idade, chamava-se Zahra e era a filha mais nova de um fidalgo por quem, excepcionalmente, o rei ensandecido nutria simpatia e confiança.
Entre as duas crianças floresceu uma ternura desmedida.
Os anos iam correndo com normalidade até que, um dia, a princesa foi acordada pela sua ama que, muito aflita, lhe contou que seu pai mandara expulsar do castelo toda a família de Zahra. Durante dois anos a princesa todos os dias chorava de tristeza pela perda da sua amiga e a crueldade do pai.
Certo dia, pela noitinha, a princesa resolveu fugir do castelo para procurar a sua amiga iludindo a vigilância dos guardas e caminhou em direcção ao rio. Fazia luar.
Já afastada do castelo, surpreendida, viu para os lados da foz do rio a silhueta de uma árvore frondosa cuja existência desconhecia.
Depois, ali perto, escondida entre altos juncos e alguns salgueiros, pareceu-lhe ver uma cabana. Receosa mas determinada, avançou até ela.
Junto a um pequeno barco que jazia, de lado, junto à entrada do abrigo, ouviu a respiração compassada mas estranha, de quem parecia dormir.
Temerária, a Princesinha a avançou e, sem ruído, foi entrando.
Deparou-se primeiro com alguns remos, redes e bóias encostados e suspensos aos ramos de um dos salgueiros que serviam de suporte àquele abrigo.
A um canto ficava um catre vazio, coberto por tecido lavado e de renda fina. Ao lado desse leito, tranquilamente, dormia um cão robusto de pêlo cuidado...
Intrigada e ao mesmo tempo receosa resolveu retirar-se com medo da reacção do animal, caso a descobrisse.
Esta descoberta levou-a a abandonar, temporariamente, o desejo de abalar do castelo, como castigo a seu pai. A curiosidade em saber quem ali vivia falou mais forte.
No dia seguinte, a velha ama contou à princesa que nas cercanias do castelo, rondou vezes sem conta, um bonito e manso cão que parecia trazer amarrado à coleira um pequeno objecto.
Na noite desse dia a princesinha voltou de novo ao abrigo dos salgueiros.
Já lá dentro, e com cautela, viu e retirou do pescoço do animal, que dormia, um pequeno invólucro de cartão que continha dentro um manuscrito.
Surpreendida, desenrolou-o e leu-o com os olhos rasos de lágrimas.
Era uma mensagem da sua companhia de infância, que tinha sido expulsa por seu pai.
Propunha-lhe nesse escrito que, se a quisesse ver, fosse junto à figueira, perto da foz. E que era debaixo dessa árvore que dormia quase todas as noites de verão, por ali se sentir mais segura e fresca.
Nahida acabara de ler o manuscrito que lhe era destinado.
Olhou em direcção à figueira e começou a correr como uma louca.
Ali chegada, depois de se abraçarem e fazerem amor, juraram os dois não mais se separar.
Conta a lenda que a Samuel, ao nascer, lhe fora dado o nome de Zahra e passou a vestir-se de menina. Ardilosamente, os pais de Samuel (Zahra) tentaram evitar, daquela maneira, serem desterrados para longe do castelo.
Só que, certa noite de verão, o rei surpreendeu, nuas, a sua filha e Samuel beijando-se apaixonadamente.
...«o»...
Conta-se que Nahida e Samuel se voltaram a encontrar junto da árvore frondosa que ficava perto da foz do rio.
Pouco tempo depois do primeiro encontro, providencialmente, o rei morreu.
Meses depois, ambos resolveram mandar erigir junto à velha figueira um palácio de verão para assinalar para sempre o seu reencontro. À volta desse palácio à beira rio foi surgindo, ao longo dos tempos, uma bonita povoação de onde se avistava a norte, no coração de Buarcos, o castelo do reino, do qual ainda hoje restam vestígios.
A essa nova povoação, virada a sul do castelo, o povo passou a chamar de Figueira da Foz em homenagem áquele atribulado e persistente amor.
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Buarcos (Castelo de)
Figueira da Foz
Torre de Redondos De um “velho castelo quadrado que se erguia sobranceiro à povoação”, também designado como “Torre” ou “Castelo de Redondos”, que aparece já citado numa doação de D. Afonso Henriques de 1143, subsiste hoje apenas um cunhal. Pela sua posição estratégica, defendeu o povoado de incursões e desembarques de tropas inimigas
Fotos dos sites "Figueira digital" e "Figueira Turismo"
mais fotos do concelho: AQUI , AQUI e AQUI
25 comentários:
Epá, gostei da história e lenda. Obrigado pelo convite. Já me tramaste vou ver o que posso fazer.
Um Abraço
Olha só vou publicar no Domingo.
Bom Fim de Semana
Afinal já saiu, publiquei no Momentos Breves - Um espaço de breves, frases feitas, pensamentos, citações e algo mais... - http://momentos.canalblog.com/
Intéressant la historigne.
Je connais Figueira da Foz et Buarcos a de bonnes années.
Dans des temps, quand les squelettes n'étaient pas aussi à vue, j'ai donné par là des bonnes mergulles … aujourd'hui, eau gelée seulement pour boire.
Bon final de semaine.
Abçs
Gostei da tua foto e da história.
agradeço teres-te lembrado de mim, mas na realidade não tenho tempo para me comprometer com mais nada. Raramente consigo escrever no Conto Livre da Kaotica. Até por isso, não me ficava bem escrever agora para uma outra iniciativa.
Mas muito obrigado!
Um abraço.
Estes movimentos estão ficando mais complexos, escrever histórias não é para qualquer um, não é uma tarefa fácil.
Caro Zé Lérias,
Muito obrigado pela distinção. Este "Paraízo Natural" da Figueira da Foz, recriado por ti, é de uma grande beleza. Parabéns pelo conto, que faz sonhar em coisas bonitas e tão, tão esquecidas, neste tempo de materialismo...
Amanhã, domingo - o dia em que o Criador olhou a obra feita e disse que estava tudo bem - vou tentar escrever este Meme.
Um abraço anarquista
AMIGO ZÉ-LÉRIAS, QUÉ BONITO!!!
Gracias por todo, por tu amistad , por enseñarnos tu paraíso- FIGUEIRA da FOZ- y por tu presencia y palabras en mi espacio.
Te gustan mucho, tambien los árboles ¿eh? Para mí, donde haya árboles , ya puede ser un paraíso. Parece en verdad un lugar mágico y de leyenda...
Ah, y esa leyenda.. MUITO LINDA y tierna que nos has traido...!
A mi además de la belleza de los sentimientos de la historia, me enseña que nadie puede manipular la vida de los demás, ni siquiera para defenderle de un sufrimiento..
Ha sido un placer Zé-Lérias. Yo tambien te deseo un buen domingo, que disfrutes mucho de tu querida FIGUEIRA ¡Y de los árboles! jejee..
Um beijo grande amigo.
eu.... esgano-te!!
tens de ver um post que fiz com o nome "contracorrente"...
bem... mas já está!
abraço!
Zé, fiquei tão transtornado com a corrente que nem te comentei...
agora que já acalmei devo dizer-te que gostei tanto do teu post, que resolvi fazer um com porte aristocrático também!!
não cumpri bem a corrente, não foi? mas a história é igualmente linda... só não contei mais para não a estragar!
e mete-me outra vez em correntes que nem sabes o que te faço!!
a entremiles (freguesa lá do quiosque) meteu-me numa e eu espetei-lhe com um moço chamado alcides...
um abraço!!
Zé Lérias,
Já vi o teu "meme" e vou responder assim que possa ...!
Parabéns pela tua resposta e vou tentar publicar um tão original como o teu ...!
Um abraço da M&M & Cª!
lenda que desconhecia...
figueira, a raínha, sem dúvida, abrazo para as Alhadas e Santana
yayaya
Eu também queria passá-lo ao JPG, mas depois do que ele disse aqui, nem por sonhos, que ele não dá conta do badalo...
O teu meme está uma coisa a sério, parabéns.
Um abraço
Ze,a migo, también a mi me tocó ese memé y la verdad es que me fue imposible hallar ese lugar sobre este planeta.
Comosimepre, muy atrapante leerte. Aún no me atrevo a dejar comentarios en portugués.
Un fuerte abrazo
zé, o abraço é para as alhadas ed baixo e de cima, não vá eles pensarem que eu me esqueci do pessoal de cima...
yaya
abrazo e como tens tantas cidades no profile... boa pesca no modego, lis ou na ribeira das bernardas
yaya
Peço muita desculpa, mas hoje é só mesmo para deixar um abraço.
bom fim de semana, Zé!!
(o que vale é que eu não guardo ressentimos...)
Posts sonoros, por que não?
Vai ouvir...
Gosto muito da Figueira da Foz e como diria o nosso apresentador de serviço, o Malato, já fui muito feliz na Figueira :)
Um muito bom fim de semana amigo Zé!
Interessante e bem esrita esta lenda, Como em todas as lendas não se sabe até onde vai a verdade e começa a imaginação como também não se sabe onde começa a parte criativa daquele que a reproduziu.
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Obrigado pela visita ao meu blogue
Bom fim de semana também para o meu Amigo
bom fim do semana meu amico, muito bonita historia do figueira da foz, um forte abraco...
Amigo Zé lérias,
é muito bonita esta postagem sobre a figueira da foz dando continuidade à sugestão da LLuvia. Também eu e devido à menção que me fez, concebi uma postagem com outra terra.
Um abraço e começarei a frequentar este espaço com mais regularidade.
Cordialmente
Antonio Delgado
AMIGO ZÉ LÉRIA,
cumpri o serviço militar na Figueira da Foz, ou melhor fiz a recruta nessa terra e nunca tinha ouvido a lenda que descreve que de facto é muito sugestiva. Fiquei agora a conhecer uma parte dos mitos locais...obrigado! Aproveito ainda para dizer que corrigi uma falha imperdoável, o seu Terapias Inocentes tem um link em Ecos e Comentarios.
um abraço fraterno
Antonio
Caro(a)s Bloggers,
A NEGRA TINTA EDITORIAL tem o grato prazer de lançar a obra “CÂMARA ESCURA (revelação), do poeta Joaquim Amândio Santos, com prefácio de António Lobo Xavier.
Sendo esta obra mais um trabalho nascido de um escritor cuja carreira foi lançada na blogosfera, a exemplo das edições previstas e possíveis no futuro próximo desta editora, será importante contarmos com a honra da presença de bloggers nas diversas acções de lançamento da obra.
Nesse sentido, solicitávamos indicação de morada ou preferência por receber o convite por mail para negratinta@gmail.com, bem como qual dos eventos escolhem para nos honrar com a sua presença.
Lançamento e Apresentações:
31 de Maio Funchal
8 de Junho Penafiel
14 de Junho FNAC Norteshopping, Porto
28 de Junho FNAC Chiado, Lisboa
5 de Julho FNAC Coimbra
Aproveitámos ainda para solicitar que qualquer manuscrito que entendam colocar à consideração desta editora para possível publicação, seja enviado por este mail, ao meu cuidado, estando previsto editarmos até 4 obras, nascidas na blogosfera, até Março de 2008.
Saudações Literárias,
Nélia Maria Pereira
Edições e Comunicação
NEGRA TINTA EDITORIAL
Muito bonita esta lenda desta nossa linda terra a Figueira da Foz. Agradecia que alguem me disses que musica maravilhosa é esta que acompanha o sitio.
Obrigado
Um Figueirense
Antonio Rocha
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