«A forma inteligente de manter as pessoas passivas e obedientes é limitar estritamente o espectro da opinião aceitável, estimulando concomitante e muito intensamente o debate dentro daquele espectro... Isto dá às pessoas a sensação de que o livre pensamento está pujante, e ao mesmo tempo os pressupostos do sistema são reforçados através desses limites impostos à amplitude do debate».Noam Chomsky

"The smart way to keep people passive and obedient is to strictly limit the spectrum of acceptable opinion, but allow very lively debate within that spectrum - even encourage the more critical and dissident views. That gives people the sense that there's free thinking going on, while all the time the presuppositions of the system are being reinforced by the limits put on the range of the debate." – Noam Chomsky

It will reopen now and then.



29 de novembro de 2006

o combo-hito

(continuação)

O rei contratara homens para escrever os livros e pagava a professores para ensinar os jovens.

Os livros e as aulas , os jornalistas, a rádio e a televisão eram preparados de forma a levar os combo-hitos a pensar e a agir de determinada maneira, sempre de acordo com os interesses do rei e dos seus amigos.

Aquilo que tinha sido uma conquista extraordinária transformara-se numa nova forma de dominação.

A luta não tinha terminado.

Era preciso recomeçar.

A grande lição era esta: NUNCA SE VENCE DEFINITIVAMENTE; a dominação e a exploração têm muitos rostos, artes e manhas. É preciso não "adormecer", é preciso manter vivo o espírito de vigilância crítica, a capacidade de reconhecer o perigo que constituem a habilidade e o poder do inimigo.

Acho que estraguei a história do meu amigo e do seu simpático e heróico Combo-Hito.

Mas se os filhos dele perceberem porque se passa o que se passa no ensino; se compreenderem porque é que constitui para os trabalhadores e seus filhos uma necessidade fundamental a oportunidade de estudar; se eles ficarem com uma vaga ideia do que vai pela comunicação social; se lhes conseguir explicar de forma muito simples o que aconteceu num certo país depois de uma festa muito grande e linda, com cravos vermelhos a florir em armas negras; se eles perceberem isso, julgo que perdoarão, um dia, àquele jornalista antipático a quem o pai insiste em chamar amigo, o ter-lhes estragado uma história linda que terminava bem, acrescentando-lhe por sua conta um «POR FAVOR, PROSSIGAM. A HISTÓRIA NÃO ACABA AQUI!»

fim-fim

27 de novembro de 2006

o combo-hito

(continuação, inesperada)

Ao ler o meu arremedo de conto, que tive o cuidado de lhe enviar, via postal, escreve-me assim um amigo, procurando disfarsar crítica negativa, em homenagem à velha amizade que nos une.

"gil:
Em anexo junto o jornal de hoje onde aparece a crítica que me pediste, referente ao teu último conto.
Este também não foi publicado, mas agradeço-te por mo teres enviado numa altura em que me faltavam ideias para a coluna que a redacção me destinou.
Um abraço. Esteves."

Desdobrei o Jornal e li, surpreendido:

"(...) Juntamente com a carta vinha um conto e um pedido de crítica.
Era um conto infantil, que a saudade dos filhos lhe ditara.
Lindo, nobre e vibrante, fora por certo inspirado pela "tragédia" do esmagamento da sua individualidade na solidão oprimida de alguma viagem no "minhocas" superlotado.
Contava a história de um mundo subterrâneo onde um jovem combo-hito (lembro-me de que ele metia um agá no meio disto!) lutava contra a opressão de um rei comboio todo poderoso.
A luta era árdua.
O Combo-Hito queria estudar e não podia.
O rei não deixava; não havia escola; todos tinham de trabalhar duramente de manhã à noite.
Ele via o pai, um velho e cansado comboio de mercadorias, esmagado por serviços violentos durante horas a fio.
O pai e os outros.
A escola era luxo proibido, a vida dura, a ignorância profunda, levando ao fatalismo, à aceitação.
Combo-Hito luta, fala, discute, faz pensar, mobiliza.
Ao princípio os comboios assustam-se, têm medo, mas acabam por se decidir e vão para a luta.
Reunem-se e reclamam; são reprimidos e fazem greve; são pressionados mas persistem e, finalmente, o rei cede.
Vai haver serviço menos duro, melhores condições de vida para todos e, finalmente, livros e escolas para todos os combohitos.
Era de facto uma bela história, simples, muito bem contada, emotiva e directa.
Lá estava toda a beleza de uma juventude que rompe as cadeias do obscurantismo, quebra as grilhetas do medo e se ergue, activa e inteligente, a despertar os outros, a fazer-lhes sentir necessidades ignoradas e possibilidades desejáveis e a mobilizá-los depois para a luta até à vitória final.
Uma bela história sem dúvida só que tinha um erro:"
(continua)

26 de novembro de 2006

O combo-hito

(continuação)
A princípio os comboios grandes tiveram mêdo que o rei mau os castigasse, mas depois pensaram que o Combo-Hito tinha razão.

-Não está certo! Os comboios pequeninos nem têm autorização para brincar, e isso é uma injustiça! -Dizia um dos comboios grandes.
-Realmente não é justo! - Dizia outro.-O Combo-Hito tem razão. Vamos fazer como ele diz! - Decide um terceiro comboio.
Então, resolveram juntar-se todos os comboios do reino em frente do palácio do rei mau e exigiram que o rei mandasse ensinar a ler todos os comboios pequeninos.
Apitaram, apitaram, apitaram - deitando faúlhas e tudo! -até que o rei, com mêdo de perder todo o poder que tinha, não teve outro remédio senão mandar construir escolas por todo o reino.
A partir daquele dia, e por causa da ideia do Combo-Hito, os comboios do reino-do-rei-mau juntavam-se todos no palácio real, a apitar muito, cada vez que queriam exigir outros direitos.
Foi por causa disso que a Metropolitânia passou a ser toda iluminada e os comboios deixaram de se alimentar só a carvão.
Hoje, a maior parte dos comboios alimentam-se a electricidade e muitos deles já não trabalham mais para o mesmo rei.

fim (provisório)
gil

24 de novembro de 2006

o combo-hito

(continuação)

Por isso tudo, o pai do comboio pequenino andava muito triste e magrinho... e o Combo-Hito, a partir de um certo dia, também começou a sentir-se muito, muito, muito triste... pensando nos comboios que viviam pobrezinhos como os seus pais.
Nesse dia, o Combo-Hito perguntou ao pai, assim:
-Ó pai, porque andas tu tão triste?
E o pai contou-lhe coisas muito estranhas, que ele ainda não podia entender bem.
Por isso pediu-lhe, com muita meiguice, de lágrimas nos olhos:
-Ó pai, deixa-me aprender a ler, como os filhos do rei!
E o comboio grande (entre dois apitos baixinhos) disse ao filho que o rei mau não deixava ninguém aprender a ler, porque queria que todos os habitantes da Metropolitânia trabalhassem para ele desde pequeninos, sem parar.
Durante várias noites o Combo-Hito pensou, pensou, pensou... até que teve uma ideia: Foi falar com os outros comboios todos, às escondidas dos pais e dos polícias do rei e disse-lhes que não deviam deixar trabalhar mais os seus filhos pequenos, antes de aprenderem a ler.

(continua)

23 de novembro de 2006

o combo-hito

Era uma vez... um planeta que ficava muito, muito, muito longe da Terra e que se chamava Metropolitânia.

Os seus habitantes eram comboios, porque mais ninguém lá podia viver, para sempre, como eles.

Esses comboios falavam e entendiam-se tão bem como as pessoas da Terra e eram também muito inteligentes.

Como alguns seres humanos (os mineiros), os comboios também viviam dentro de grandes buracos onde fazia sempre muito escuro e, talvez por isso, se deu o nome de Metropolitânia ao tal planeta.

O dono desse planeta, hà muitos anos, era um rei rico e muito mau. De entre os seus súbditos, havia uma família que tinha um filho a quem os habitantes da Metropolitânia deram o nome de Combo-Hito, talvez por ele ser muito pequenino e inteligente.

Como os pais do Combo-Hito, também os outros comboios eram pobrezinhos e muito sujos porque a sua única alimentação era o carvão e também porque trabalhavam sempre debaixo da terra, nos tais buracos muito grandes... e depois não tinham tempo para se lavar porque labutavam dia e noite para o rei mau.
(continua)

22 de novembro de 2006

era uma vez...

 
gil Posted by Picasa

12 de novembro de 2006

Os Drogados - Os Leprosos

(continuação)
Em Tempo:
Para além dos grandes benefícios sociais, de entre os quais dou conta a seguir, há a destacar que o nosso Estado viu reduzidas, drásticamente, as despesas anteriormente destinadas a esta problemática da droga e suas ramificações.
O flagelo dos assaltos e roubos perpetrados por toxicodependentes e "dealers", e as suas consequências sociais, deixaram de atormentar o nosso país.
E porque a ciência descobriu, há alguns anos, os meios capazes de impedir o contágio da sida e o aparecimento de doenças como a hepatite, a nossa sociedade viu erradicada de vez essas chagas e angústias que desconjuntavam famílias inteiras.
Hoje seria impensável recorrer-se ao enclausuramento compulsivo de toxicodependentes, dada a emancipação e bem estar atingidos pelo nosso povo.
Por isso, parte do nosso hospital-colónia foi reconvertido, uma parte em estância turística, outra em unidade de apoio a crianças e outra a um centro hospitalar, por não ser mais prestável ao fim para que foi criado.
Arthurio Imaginado Real
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fim
gil

11 de novembro de 2006

Os Drogados - Os Leprosos



(continuação)
- As drogas apreendidas não eram inceneradas, mas antes devidamente analizadas, contabilizadas e armazenadas em cofres-fortes, quais barras de ouro;

- A todos os toxicodependentes, que o solicitaram, foi-lhes emitido um cartão electrónico, seguro e personalizado, para que junto de farmácias autorizadas levantassem, ao preço de um maço de tabaco, a sua doze diária de estupefaciente;

- Os doentes que por vontade própria quizeram tentar a recuperação, ingressaram de imediato no Hospital-Colónia, sendo-lhes atribuídas instalações especiais.
A sua permanência durava o tempo mínimo de um ano.

-A outros doentes, que por crimes cometidos eram compulsivamente internados, estavam-lhes reservadas instalações separadas dos anteriores, sem que lhes fosse impedido o convívio com todos os outros habitantes da Colónia.
A estes era-lhes imposto um internamento de mais um ano após a presumível cura, salvo se o delito que os levou á Colónia não requeresse outras medidas de ordem penal.

Por hoje é tudo.

Despeço-me com consideração e até sempre,
Arthurio Imaginado Real

(CONTINUA)


8 de novembro de 2006

Os Drogados - Os Leprosos

(continuação)
Decorridos os anos, os resultados deste enquadramento, superaram todas as expectativas: Desde há muito que no nosso país deixou de haver problemas causados por essas vítimas da droga, constatando-se também a erradicação da sida e outras doenças.
A nossa experiência foi aplicada por toda a Worlddollandia.
O problema com que nos debatíamos foi resolvido mercê também da criação de medidas, muito reflectidas, a juzante, onde a educação e o quase pleno emprego ocuparam (e ocupam) lugar preponderante.
Obviamente que a construção do nosso Hospital-Colónia foi uma etapa importante no processo de cura dos doentes. Mas a montante e concomitantemente com esta iniciativa, foram tomadas medidas rígidas para evitar o mercado paralelo das drogas, tais como, por exemplo e resumidamente, passo a descrever:
(CONTINUA)

3 de novembro de 2006

Os Drogados - os Leprosos

(continuação)
Nunca tive notícia de que alguém ou alguma instituição planetárea criticasse a sua existência. Tudo era discreto e muito mais aceite que rejeitado, levando em conta ter que se optar pelo mal menor em relação aos interesses da sociedade, incluídos os próprios internados.

O ambiente entre funcionários e doentes era - salvo raras excepções - modelar, tendo em vista o bem estar de todos.

Solteiros e casais toxicodependentes (como vós dizeis e eu utilizarei a partir daqui para melhor me entenderem) viam ali mais ou menos decalcados, para melhor, os dia-a-dia dos cidadãos emigrantes que, sozinhos, deixaram por algum tempo o seu país para procurar, no estrangeiro, melhores condições de vida.
Como se estivessem integrados numa pequena cidade, quase esqueciam a estadia, a maioria das vezes involuntária.

Todas as despesas no Hospital-Colónia eram suportadas pelo Estado.

Das escolas profissionais, teatro, televisão e cinema até ao desporto, das igrejas ao cultivo do campo ou do oficinar, tudo lá existia.
Todos trabalhavam nas profissões para que tinham aptidão e por isso recebiam um salário.
Também não faltava, claro está, uma apetrechada clínica de desintoxicação com seu excelente corpo clínico, nem uma polícia especial para acorrer a casos sempre previsíveis de insubordinação.

(Continua)